quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Anemia microcítica em animais domésticos

ANEMIA MICROCÍTICAS EM ANIMAIS DOMÉSTICOS

MICROCYTIC ANEMIA IN DOMESTIC ANIMALS
ETIOLOGIA E DIAGNÓSTICO LABORATORIAL

Polliana Alves Franco, M.V. M.S.c. Ciência Animal - UFMS
VetAnalisa – Laboratório Veterinário
Rua Professor Severino Ramos de Queirós, 226.
Vila Glória. Campo Grande – MS
Contato: ( 67) 3201-6012 / 9244-9229


A anemia é um distúrbio hematológico caracterizado pela redução simultânea dos valores de volume globular (VG), número de eritrócitos circulantes e teor de hemoglobina. As principais causas estão correlacionadas com processos hemolíticos, perda sanguínea e hipo ou aplasia medular. De maneira didática são classificadas em microcíticas, normocíticas e macrocíticas, essa determinação vem da avaliação do Volume Corpuscular Médio (VCM) que tem relação direta com o tamanho das hemácias. A anemia de pacientes que apresentam valores de VCM abaixo dos observados para a referência da espécie são  denominadas como do tipo microcítica, ou seja, as hemácias apresentam   tamanho médio reduzido.  
                A teoria para que as hemácias produzidas pela medula óssea tornem-se menores é justificada pelo fato de que elas tem que carrear certo nível de hemoglobina no seu interior. No momento que a produção da molécula de hemoglobina é ineficiente há a indução de mitoses adicionais mantendo os níveis de hemoglobina de uma hemácia normocítica em um corpúsculo de menor tamanho.  A princípio esse mecanismo funciona porém com a progressão da doença observa-se que a Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média (CHCM)  tende  a reduzir alterando a classificação a anemia microcítica normocrômica inicial  para  uma anemia microcítica hipocrômica.

Figura 1 – Esfregaço sanguíneo de cão apresentando microcitose e hipocromia. Coloração de Panótico. Objetiva 100x.

As causas primárias (TABELA 1) deste tipo específico de anemia são: a deficiência de ferro (Fe 2+), seja ela por deficiência nutricional, distrúrbio metabólico ou perda sanguínea.   O conhecimento das causas primárias permite gerar uma série de diagnósticos diferenciais que podem afetar os animais tais como as endoparasitoses, hemorragias crônicas, coagulopatias, anemia da inflamação, neoplasias e deficiências nutricionais.
A deficiência de ferro nutricional é inicialmente normocrômica e a medida que os estoques de ferro corpóreo vão reduzindo as hemácias microcíticas consequentemente serão produzidas. Como o leite contém pouco ferro os animais recém nascidos em fase de crescimento são mais predispostos a desenvolver anemia secundária a deficiência do mineral.
A anemia causada pela perda crônica de sangue é ocasionada pela deficiência do Fe 2+. O Ferro não é o único componente perdido capaz de influenciar no processo de anemia, porém é o que detém  papel principal. A perda sanguínea para o meio externo de modo crônico pode ocorrer tanto pelo trato gastrointestinal como pelo trato urinário. A reticulocitose pode estar presente até que haja depleção dos estoques de ferro.
A patogenia da anemia causada pela Doença Inflamatória Crônica (DIA) envolve mecanismos que alteram a sobrevida dos eritrócitos (elevação de IL-1 e lesões oxidativas), a diminuição da mobilização do Fe 2+ e hipoplasia da série eritrocitária. A sua ocorrência é comum nos mamíferos uma vez que está associada a doenças como neoplasias malignas, processos inflamatórios crônicos, infecções bacterianas, fúngicas e por protozoários, geralmente é normocítica normocrômica, mas pode progredir para a microcitose.
A anemia causada pela deficiência de Cobre em suínos e cães está relacionada ao transporte do Ferro. Quando há deficiência de Cobre existe menor atividade da oxidase férrica que diminui a absorção intestinal e diminui a liberação do ferro para fora dos macrófagos o que consequentemente o torna indisponível levando a síntese defeituosa da Hemoglobina.
O mecanismo causador da anemia em animais com Shunts portossistêmicos não foram totalmente esclarecidos, acredita-se que ocorra deficiência funcional do Fe 2+ decorrente do prejuízo na síntese de moléculas carreadoras secundária ao dano hepático.
 A Diseritropoese em cães da raça English Springer Spaniel é um distúrbio familiar de patogenia desconhecida que causa polimiopatia, megaesôfago, cardiopatia e anemia microcítica não regenerativa. A avaliação sanguínea desses animais revela rubricitose, esferocitose, codocitose, dacriocitose, esquizocitose e eritrócitos vacuolizados.
     Os achados laboratoriais observados no esfregaço sanguíneo incluem alterações morfológicas nas hemácias, além da microcitose, pois elas são mais propensas a danos estruturais. Ainda podem ser encontrados leptocitose, codocitose, hipocromia, anisocitose, poliquilócitose, hemácias fragmentadas (esquistócitos) e em alguns casos trombocitose.
A terapêutica nesses casos deve levar em consideração o diagnóstico etiológico primário, posto que a simples reposição do ferro perdido pode não ser suficiente para cessar o mecanismo pelo qual a anemia foi gerada. A transfusão sanguínea pode ser utilizada como medida a ser tomada em casos de urgência, porém os clínicos veterinários devem ter em mente que a anemia não é a causa e sim uma anormalidade secundária provocada por um distúrbio crônico importante que pode em alguns casos ter prognóstico desfavorável.

Tabela 1 – Principais causas de anemia microcítica normocrômica ou hipocrômica em animais domésticos.
·         Deficiência de ferro (semanas a meses)
· Hemorragia externa crônica (úlceras gastrointestinal e hematúria)
·         Deficiência de Cobre
·         Deficiência de vitamina B6 – piridoxona
·         Shunts porto sistêmico
·         Doença Inflamatória Crônica
·         Insuficiência hepática
·         Envenenamento por Molibdênio
·   Diseritropoese em cães da raça English Springer Spaniel







MICROCITOSE EM ANIMAIS NÃO ANÊMICOS

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Alguns cães da raça Akita e Shiba tem valores de VCM mais baixos que a referência estabelecida para a espécie canina que variando em torno de 50 a 60 fL. Outros cães de origem japonesa como Jindo, Chow chow e Sharpei podem apresentar hemácias com valores de volume médios inferiores aos valores de normalidade. Potros e filhotes de gatos possuem valores de VCM menores quando comparados aos animais de idade adulta.

Referência Bibliográfica


FLEISCHMAN, W. Anemia: Determining the Cause. Compendium: Continuing Education for Veterinarians. p. E1- E9. 2012.

GARCIA, C. Z., HERRERA, M. de S., JÚNIOR, J. M. F., ALMEIDA, M. F., RAMOS, M. H. F., SACCO, S. R. Anemia microcítica em pequenos animais. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária. Ano VI, n. 11. 2008.

HARVEY, J.W. Microcytic Anemias. In: FELDMAN, B.F.; ZINKL, J.G.; JAIN, N.C. Schalm’s Veterinary Hematology. 5.ed. Philadelphia: Lippincott Williams&Wilkins, p.200-204, 2000.

MEYER, D. J. , COLES, E. H., RICH, L. J. Medicina de Laboratório Veterinária. Primeira edição. São Paulo: Roca, p. 11 – 23. 1995.

SOETAN, K. O., OLAIYA, C. O., OYEWOLE, O. E. The importance of mineral elements for humans, domestic animals and plants: A review. African Journal of Food Science. Vol. 4(5) p. 200-222, 2010.

STOCKHAM, S. L. & SCOTT, M. A. Fundamentos de Patologia Clínica Veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2 ed. p. 90-186. 2008.

2 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Parabéns pelo blog!

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